«Tenho o prazer de informar o Senhor Director…» – Cartas de Portugueses à PIDE (1958-1968)

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Os Portugueses foram meras vítimas da PIDE e das políticas opressivas que esta impunha ou, na realidade, como sob qualquer regime autoritário, interagiram com essa força policial servindo-a ou servindo-se dela?
Criada em 1945, numa reformulação meramente cosmética da sua antecessora (a PVDE), pois esta estava demasiado conotada com a «era fascista», a PIDE (acrónimo para Polícia Internacional e de Defesa do Estado) manteve os extensos poderes arbitrários da PVDE na sua tripla missão: garantir a «segurança do Estado» (eliminando a dissidência política), controlar as fronteiras e actuar enquanto serviço de informações. Para este fim, foi necessário criar uma rede de informadores.
Até hoje, a bibliografia dedicada exclusivamente à PIDE continua a focar-se nos mecanismos de repressão exercidos sobre a pequena minoria de opositores ao regime, como se esta fosse a única forma de relacionamento entre a sociedade e a PIDE. A principal consequência deste tipo de abordagem foi reduzir o grosso da população ao estatuto de «povo vítima», que aguentou passivamente a repressão exercida pela PIDE.
No entanto, a realidade é bastante mais complexa, como esta obra visa demonstrar. A relação entre a sociedade portuguesa e a PIDE foi sempre muito mais activa e multifacetada do que tem sido reconhecido até hoje. Os Portugueses nunca foram um simples «povo vítima» a aguentar passivamente e atemorizado o ímpeto repressivo da PIDE. Pelo contrário, a sociedade portuguesa adaptou-se activamente à presença da polícia política e este livro pretende ilustrar as formas como os cidadãos comuns interagiam livremente com a PIDE, muitas vezes (mas não sempre) instrumentalizando-a para cumprir interesses pessoais ou satisfazer necessidades básicas do dia-a-dia.

«A 24 de Agosto de 1964, o subinspector António Augusto Teodósio, da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), enviou aos seus superiores um relatório sobre a situação social e política na zona da Guarda. “De toda a parte”, escreveu, “chegam até nós cartas anónimas, chamadas telefónicas e outras notícias, dando-nos conhecimento de fugas constantes [para o estrangeiro] de indivíduos, em maior número de rapazes novos, que fogem ao serviço militar”. O seu principal objectivo era alertar as autoridades em Lisboa quanto à magnitude da tarefa que a PIDE enfrentava na sua missão de controlo das fronteiras, em particular na contenção da emigração clandestina. Indirectamente, o conteúdo do relatório proporciona também um sinal enfático da importância das denúncias (espontâneas) enquanto fenómeno social nos anos da ditadura salazarista. Já em 1951 Joaquim Trigo de Negreiros, o então titular da pasta do Interior (órgão de tutela da PIDE), tinha lamentado, num relatório interno, o afluxo de cartas de denúncia enviadas por membros do público. Este tipo de relatórios não só contradizia as pretensões do regime quanto à criação de uma sociedade “organicamente” harmoniosa, como sugere a prevalência da delação enquanto prática social generalizada durante o período do Estado Novo.» Da Introdução.

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Duncan Simpson é licenciado em Estudos Europeus pela London School of Economics e doutorado em Estudos Portugueses e Brasileiros pelo King’s College, de Londres.
Tem concentrado a sua investigação nas relações entre o Estado Novo e as diversas áreas da sociedade, destacando-se, na sua produção académica, a obra A Igreja Católica e o Estado Novo Salazarista (Edições 70, 2014).
É actualmente investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).

Informação adicional

Dimensões (C x L x A) 15 × 23 cm

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