Vagabundagem por Lisboa

Vagabundear é andar por aí sem destino geográfico, só com destino existêncial. Peripatético, ambulantes ou itinerante, passeio. Não me interessam nem lugar nem tempo, qual lugar é o lugar, qualquer tempo é o tempo. Por isso, deambulo, devagar. Vou sem pressas por aí. Quero reparar em cada pessoa que me cruza e em cada coisa que me aparece, sejam por fora na fisicalidade do mundo, sejam por dentro na interioridade de mim, e, depois, retê-las e pensá-las e, depois ainda, pensar esses pensamentos que me foram. Existir sobre a vida, que é agarrar a vida que me passa, imobilizá-la na consciência do aqui e agora, fazê-la minha e transformá-la. O que me interessa? Memórias refazê-las, pessoas redescobri-las, pedras aprendê-las. E encontro e desencontro memórias, pessoas e pedras. E todos esses encontros e desencontros se enlaçam, sem espaço, sem tempo e sem ordem e constroem a escultura caótica que fica da vida que foi existência ou desconstroem o mito da linearidade suposta. Existência é a escultura que em cada momento fica, depois da matéria informe da vida ser esculpida.