Caderno de Lembranças

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«O manuscrito cujo texto estabelecido se apresenta aqui foi elaborado por Agostinho da Silva em 1986, quando então contava oitenta anos de vida. Permaneceu inédito, no entanto, ao longo dos últimos dois decénios, junto a tantas outras páginas interessantes que escreveu e que, por um motivo ou outro, não tendo sido igualmente publicadas, quedaram guardadas nos arquivos cuidadosamente mantidos pelo seu primogénito, o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, Pedro Manuel Agostinho da Silva […]

[…] Esta autobiografia não obedece a critério cronológico, antes o subverte, nem a uma preocupação de ter de relatar os acontecimentos ou experiências biográficas as mais relevantes, as factuais como as psicológicas. Livremente escrita, o seu devir foi-se dando pela dinâmica do lembrar: a do tempo entrecruzado, de presente e passado, a dos fluxos e refluxos que constituem as redes do imenso e magnífico tecido que é a memória humana – da superfície do agora ao profundo –, com suas tramas e urdiduras flutuantes, desconcertantes concertos de recordações e esquecimentos de tempos e de espaços e, no caso de George Agostinho da Silva, como se verá, de além-tempo e de além-espaço, na linha metafísica do seu mestre Platão, ‘não mestre quando legisla, mas quando é dramaturgo, quando é poeta filósofo’.»

Amon Pinho Davi e Romana Valente Pinho
In Introdução

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George Agostinho Baptista da Silva nasce a 13 de Fevereiro de 1906, no Porto, e morre a 3 de Abril de 1994, em Lisboa.

Frequenta a Faculdade de Letras desta mesma cidade, concluindo o curso de Filologia Clássica em 1928, altura em que começa também a colaborar na revista Seara Nova.

Em 1931 parte para Paris e estuda na Sorbonne e no Collège de France, de onde volta dois anos mais tarde, data em que começa a leccionar no Liceu de Aveiro.

É demitido do ensino oficial por não assinar a Lei Cabral e parte novamente, desta vez para Madrid para estudar no Centro de Estudos Históricos. No entanto, regressa passado um ano pela iminência da Guerra Civil Espanhola.

Mais tarde, em 1943, é preso pela PIDE e um ano depois abandona Portugal, ao qual só regressa em 1969. Passa pelo Uruguai e pela Argentina, mas é no Brasil que permanecerá a maior parte do seu tempo.

Em 1948 instala-se no Rio de Janeiro, onde trabalha no Instituto Oswaldo Cruz, ensina na Faculdade Fluminense de Filosofia e colabora na Biblioteca Nacional.

Em 1952 ensina na Universidade de Paraíba e de Pernambuco, em 1955 ajuda a fundar a Universidade de Santa Catarina e em 1959 cria o Centro de Estudos Afro-Orientais e ensina Filosofia do Teatro na Universidade da Bahia.

Anos mais tarde, colabora também na fundação da Universidade de Brasília e nesta cria o Centro de Estudos Portugueses. Em 1963 passa pelo Oriente, visitando o Japão, Timor e Macau e, em 1969, por não se dar bem com ditaduras, Agostinho da Silva volta a Portugal.

Depois da Revolução dos Cravos, volta ao ensino universitário e dedica-se à escrita, além de também viajar, receber títulos e medalhas e participar em programas de televisão.

Apesar deste seu percurso, Agostinho da Silva manteve-se sempre na simplicidade e humildade: o filósofo popular intentando a sedimentação da Era do Espírito Santo.

Informação adicional

Dimensões (C x L x A) 15 × 24 cm

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