Agostinho da Silva – A Última Entrevista de Imprensa

UMA ENTREVISTA HISTÓRICA E INÉDITA:
O TESTAMENTO ESPIRITUAL DE AGOSTINHO DA SILVA

Pela primeira vez publicada em livro na sua versão integral – graças à recente redescoberta dos registos sonoros originais –, a derradeira entrevista de Agostinho Silva à imprensa revela uma síntese definitiva do seu pensamento e oferece um contributo imprescindível para a compreensão da obra extraordinária do filósofo.

«Eu acho que a Europa é uma coisa que vai desaparecer, ouviu? Se nós dermos uma definição de Europa não só geológica – isso não vai desaparecer por enquanto, não é assim? A placa tectónica não vai desaparecer por enquanto, não é? Mas se nós chamarmos Europa a um conjunto cultural que se vê por exemplo… que vem directamente do Império Romano, que dá o Direito – o Direito, afinal, veio todo da Filosofia que os Romanos entendiam mal… – mas havia dois ou três princípios que todos acharam úteis para as pessoas viverem em sociedade, e tomaram, fizeram o Direito, que depois Portugal levou ao mundo. Porque quem, realmente, constituiu o Império Romano de hoje não foram os imperadores romanos. Esses foram batidos pelos bárbaros que entraram logo na Idade Média. Quem levou o Império Romano ao mundo foram os portugueses.»

Agostinho da Silva

«Agostinho da Silva na parte final da vida fez da entrevista um novo género de expressão. No seu caso, a entrevista não teve o sentido de promoção, de consagração ou de exposição pública, que é em geral a forma vulgar com que os escritores a adoptam. Nele a entrevista era apenas uma forma de continuar pelo oral, numa altura em que a apetência de pegar na caneta era já pouca, o que sempre o prendera na escrita, o gosto de falar de tudo e de qualquer coisa. O resultado foi um novo género de expressão, vivo e coloquial, que podemos considerar o último grande modo de expressão verbal de Agostinho da Silva..»

António Cândido Franco
In Prefácio

«Consideramos justo apelidar a última entrevista de Agostinho da Silva à imprensa em 30 de Setembro de 1993 como uma peça testamentária onde o autor de Aproximações e Ajustamentos consegue transmitir para seus ásseclas o fermento principal de todo um discurso elaborado durante uma vida inteira.»

João Ferreira
in Posfácio